segunda-feira, 7 de junho de 2010

II ENCONTRO BIENAL DE PSICANÁLISE E CULTURA DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE PSICANÁLISE DE RIBEIRÃO PRETO

Esse assunto muito interessante foi tema de estudos e dircursos feitos nesse encontro, que ocorrerá novamente daqui a dois anos, então uma dica :
- Não percam, vou postar uma parte do trabalho para instigar vc a participar desse encontro, ok!
Primeira parte

“A SAGA DE CAMILLE CLAUDEL”
(1864/1943)
Decio Cassiani Altimari

Camille, filha do Senhor Louis-Prosper Claudel, pacato funcionário público no nordeste da França, homem bondoso e que acreditava nos filhos, incentivando-os nos seus desejos profissionais (Camille quis ser artista plástica – e foi; a irmã Louise quis ser pianista – e foi; o caçula Paul quis ser poeta – e foi, e todos o foram com as bênçãos do pai). A sua mulher era uma megera; se chamava Louise-Athénaise, e arrotava um passado nobre, escondendo sempre a história do irmão louco de pedra que se suicidara; era uma virago; casou e seu primeiro filho morreu com 16 dias de vida, não querendo mais voltar à maternidade; ao saber que lhe viria um próximo filho, detestou o concepto que crescia no seu ventre, e o detestou por toda vida depois que nasceu: esse era a Camille.
Quanto aos demais dois Louise-Athénaise amenizou o ódio e 'té mesmo lhes deu amor; o segundo nascido foi a filha Louise, que se fez pianista [a mãe dizia que ela era uma virtuose (não era)]; pelo terceiro desenvolveu uma tão exagerada como patética afeição: foi o Paul, que será poeta místico de fama e diplomata de carreira falada.
Já a menina Camille, essa teve sempre o ódio dela, que só foi ir aumentando com o passar do tempo (sei lá o porquê).
O casal Claudel era religioso. Muito religioso. A religião do pai era boa. Mas a religião da Senhora Claudel era má, sem compreensão, sem um pingo de bondade. A sua religião era o avesso da do Senhor Claudel (aliás, ela era o avesso de tudo o que era bom).
Daí o Senhor Claudel não se escandalizar quando Camille, aos 17 anos, lhe disse que queria ser escultora e que queria ir a Paris estudar. Aceitou. Lembro que mulher querer ser “artista” nessa época era meio absurdo e mesmo meio indecente; ser escultor então era uma absurda indecência. Porém Camille tanto queria que o pai esforçou-se e conseguiu matricular a menina (de 17 anos) na Academia Colarossi (a única da França que recebia mulheres aprendizes); foi aluna na classe de Boucher (escultor menor da época, mas diz-quê instrutor bom e eficiente). Aí, Boucher ganhou Prêmio de viagem à Itália, em 1883; antes de ir pediu para um amigo também escultor assumir seus pupilos (dentre eles uma mulher: a Camille, que já estava nos 19 anos).
O amigo era um escultor que o Boucher apontava ser genial: Auguste Rodin.
Boucher era dos únicos que o considerava genial; quasi-quê todo mundo considerava Rodin esquisitão, escultor que pouco satisfazia os que lhe encomendavam trabalhos, pois os resultados das encomendas eram freqüentemente esquisitos, raramente correspondendo às especificações dos contratantes, que pagavam caro e antecipadamente como Rodin exigia.
Relutou em receber mulher-aluna, mas cedeu quando a viu chegar: ela era jovem e linda. Logo, em 1885, vendo-a com capacidade tal que tinha nada a aprender dele nas classes, foi trabalhar no seu ateliê como assistente. Lá, rapidamente, foi guindada à condição de “principal ajudante”. E mais rapidamente ainda passou a ser modelo; a modelo tornou-se musa, a musa transformou-se em inspiradora, e a inspiradora acabou sendo amante. Tudo bem rapidamente.

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